domingo, junio 12, 2011

ILUMINANTE PETRÓLEO que escorre pelos poros dessa casa de espetáculos

Libreto para Opereta em 5 movimentos


I. ADAGIO

Este é o chão em que Goliarda tombou.

Das crateras e ranhuras deixadas pela queda persiste um tipo exótico de vida. Hastes sintéticas, caules metálicos e assassinos um a um brotam e crescem até tapar completamente o corpo dormente, um a um - o exército de trepadores. Já não se vê mais Goliarda tombada, nem muito menos se ouvem os seus sussurros por socorro. O que se vê é um amontoado de peças plásticas e metálicas reaproveitadas de finalidades menores, um emaranhado de teias baratas. Aquele que porventura arrisque e se aproxime verá um leve esverdear em seus nós, que ali não estavam há um segundo atrás, e antes de ser arrebatado pela fúria de severos galhos contemplará o surgimento de folhagem idêntica à natural, como se um parasita tivesse se alojado por ali.

II. ANDANTE

Amável e elegante é o cruzar destas hastes com o corpo de Goliarda. Elas a envolvem, acariciam e creio não ser exagero dizer: ambas se penetram. Caso fosse possível nos emaranharmos no meio de estraña vegetação, veríamos a mais bela forma de amor inter espécies. Um entendimento puro de compreensão anatômica. O espaço onde a biologia se atrapalha: a marcha rasteira de brilhantes tentáculos em territórios esquecidos. Um estudioso menos normativo sussurraria do alto de um monte: “um caso simples de dimorfismo sexual!”. E não estaria errado. Afinal, quem teria coragem de dizer que aquelas duas criaturas não pertencem à mesma espécie? Certamente Goliarda, se pudera, gritaria com a força de seus pulmões sobre o vigor do ferro e o quanto o cheiro de plástico a excita.

III. MODERATO

Ária Letárgica: Apenas o Iluminante Petróleo é capaz de acalmar uma carne furiosa.

Enquistamento.

Goliarda não se move. Jaz enraizada nas fissuras causadas por seu próprio tombamento. Cresce uma sobrepele, uma nova camada verde, pegajosa e escorregadia sobre o seu novo corpo. Fungos, algas e protozoários se alojam e formam uma cápsula de extremo conforto. Não há movimento na cena: apenas um amontoado de substâncias entrelaçadas.

Destilação Fracionada

Mesmo que Goliarda deseje se levantar, ela não poderá. Tamanho é o seu torpor. Da ramaria que a envolve escorrem gotas que umedecem o seu tecido, contaminam o ar e a entorpecem em delirante odor explosivo. Relaxa.

IV. ALLEGRO (MA NON TROPPO)

Goliarda se envolve no processo de florescimento, já não pode fugir. Está ligada intimamente com cada respiro da planta invasora. E principalmente: não quer fugir. Se sente confortável. Pós-Gênero, Pós-Gênese, Pós-Gene. É de suas entranhas que surgem os primeiros galhos floridos, em poucos segundos revestindo aquele que outrora foi o seu corpo. Mas que agora lhe é pouco. Os ramos que rompem seus músculos, ossos e nervuras conquistam cada trecho do seu novo corpo, de forma a se tornar uma atividade impossível definirmos quais são os elementos sintéticos, orgânicos ou híbridos. Uma plumagem de coloração viva e iluminada, nunca vista antes em nenhum estudo de ornitologia, procura espaços nas brechas deixadas e as ocupa. Pressiona, fricciona, incendeia. Apenas o Iluminante Petróleo é capaz de acalmar uma carne furiosa.

V. GRAN FINALLE (GRAVÍSSIMO)

Canto Carne de Combustão

Goliarda: Ivish, ganeôoa.

Ivish, ganeôooa.

Ivish. Pruma. Goro. Roro. Ipinhaí

Ivish. Carmonhaí. Nhaí. Purogo.

Ganeôoa. Ganeôooa. Ganeah.

Gane. Piricatahna. Piririririririririri.

Ivish. Caterri. Guatarri e Deleuze.

Ivish. Ponhonomoah. Ponorá. Rah rah.

Punhono. Me me. Vigualah.

CE se.

Imponhonomo mo mo mo mô mo mo

Ivish. Ivish.

Porogo. Namehô.

Ivish.

Puluninhumoka kA

KA KA KAAA KA KA

Ivish. Ivish. Ivish. Ivish.

Karaka. KA KA.

Kanhamo. KA. KA.

Ivish. KA KA

KAHUO KA KA

KAZUOKA, Ivish.

KANAME. Ivish.Ivish. Ivish.

Ivish. Ivish Ivish Ivish

Ivish, ganeôoa.

Ivish, ganeôooa.

Ivish. Pruma. Goro. Roro. Ipinhaí

Ivish. Carmonhaí. Nhaí. Purogo.

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